quarta-feira, 30 de junho de 2010

Máscaras

Havia muita gente...O espaços que haviam para passar eram pequenos vãos entre os corpos naquela multidão.

Muitas máscaras...tantas quanto o número de pessoas do lugar. Ele pensava “vou mascarado, serei visto como quero, serei aceito, os outros não precisam, não usam, não vão notar”. E pensava sem pensar, queria sem saber, mas usava, ele sempre usava e não se dava conta mas aquilo tornava-se um vício inconsciente, estava preso...preso no seu “eu mascarado”. No seu íntimo a máscara já não era necessária, saía dele sem precisar desprender muita força, aí ele chorava...lembrava que era tudo uma grande mentira. No seu íntimo não conseguia esconder-se de si mesmo e chorava, chorava... quando as lágrimas cessavam, um fio de sangue lhe escorria pelo nariz e ele podia sentir aquele gosto de sangue quente.

Todos usavam e pensavam ser os únicos. Todos enganados, cada um em seu mundo de mentiras, de verdades encobertas. Era mais confortável ter uma pincelada aguada de cor em seus sentidos acinzentados. Ser aceito!

Ele tinha vontade de chegar mais perto, de olhar bem fundo encarando o “eu” deles, queria saber se mais alguém naquele mundo se escondia como ele, se usava uma fantasia. Sentiria-se melhor se soubesse que alguém também tinha um segredo desses. Mas hesitava, não se atrevia... e se alguém descobrisse a sua farsa? Se quando ele estivesse bem perto alguém visse aquela máscara? Estaria abolido, seria o exílio eterno. A coisa que ele mais temia. Embora evitasse pensar a respeito, seus pensamentos e temores lhe perseguiam sem dar trégua, vivia em uma eterna tortura psicológica, então se resignava. Nunca descobriria se existiam outros farsantes como ele.

Todos com máscaras, todos pensando igual, na agonia por uma resposta, querendo saber sobre o outro, pra poder em silêncio livrar-se de uma parcela daquela carga pesada... a mentira. E choravam escondidos, encolhidos, no canto gelado, escuro fosco da mais pura hipocrisia. Medo! Estavam fadados à duvida e resignação eterna. O medo! Que medo... daquela pergunta, quanta tortura em uma única pergunta, um sopro de solidão, uma janela, um descuido, a sensibilidade, uma resposta, o exílio!

Posso ver a cor dos teus olhos?