quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Inspiração indesejada

Ávidas soluções
Distintas sensações
Mistérios de que não se tem notícia

Coisas que não digo, não falo, não repito.
Preferia que fosse por bons motivos, essa inspiração que gosto de ter
Coisas de que ninguém escapa, de que não se pode escolher.
Uns escrevem, outros manifestam de outra forma, e um parênteses abre-se nesse meio para os feixes de certeza mais estreitos.

Querendo não querer, mas ao mesmo tempo desejando ter
Aquela mesma história clichê, do que se dói e não se sente, do fogo que arde sem se ver e da flor roxa, que você deve muito bem conhecer.

Um sabe que não, sabe que sim. Um Eu ja não penso mais nisso mas isso não me sai da cabeça.

Esse orgulho que engrandece, é o mesmo que domina
Viva e veja, sinta e seja, seguindo essa tua sina

Na certeza de que algum dia
Essa chama que se apagara
Será mais viva e clara
Do que quis e merecia.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

O Espetáculo

E lá estava eu muito feliz e contente, só que passando o maior frio. Na verdade estava lá sim, mas cansada, com sono e estressada, e olhe que fazia meia hora só que estava no meu posto, só esperando começar a palhaçada pra sair depois de umas 11 horas de trabalho.

O fato é que fazia frio, minhas calças eram um pouco mais curtas e entrava um ventinho passando fino nas canelas. O silêncio que eu queria aproveitar como se fosse experimentá-lo pela última vez e o tédio amargo ao que já estou acostumada nesses dias de ”circo”. Mas não demorou muito para esquentar, de repente me subiu um calorão. Não, não tem nada a ver com atração física, percebi que havia esquecido minha bolsa em algum lugar há um hora atrás, bastou isso para aumentar consideravelmente a temperatura das minhas bochechas e na mesma proporção sua tonalidade que em estado normal é ligeiramente avermelhada. Por sorte uma pessoa de confiança a encontrou e guardou pra mim.

Estava tudo correndo normalmente no picadeiro... a competição feminina referia-se ao vestido mais colado, o cabelo mais platinado, o silicone "mais importado” e o grau de peladeza. A competição masculina era menos evidente, sobre o maior bíceps, as maiores tatuagens, o bronzeado mais estonteante. Mas tanto os homens quanto as mulheres usavam perfumes incríveis, adoro esses perfumes que eles usam... Uma vez atendi um moço... o cheiro dele era algo indescritível, só sei que nunca mais esqueci daquela sensação embriagantemente maravilhosa que provei ao exalar cada nota dos óleos essenciais que compunham aquela obra-prima perfumal.

No meio da noite aconteciam coisas engraçadas e outras irritantes, o de praxe... consumidores de TridentE (que me lembra o dialeto excêntrico do pessoal colono da minha terra, que a propósito me diverte muito), sem falar nos que têm preferência por um sabor em especial... o FreshE MintE. Também tem outros clientes... os que fazem perguntas “inéditas”, que respondo com a afirmação “direto no bar”... até hoje nenhum deles deixou de me perguntar “direto no bar?” logo após eu ter respondido.

Você responde “direto no bar” e eles te perguntam “direto no bar?”... haja tolerância. Cara, se eu falei que é direto na droga do bar é porque é direto na droga do bar. Claro que eu não falo, só penso, mas me dá uma vontade de falar que nem queira saber.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Surrealismo típico de segunda-feira

Cara, eu amo meus pijamas, meus xampus, minhas meias e sabonetes.

Amo meus sticks de frango, e a maionese da minha Zium...meu s Bull-Terriers e até meu chinelo preto.

Amo tomar café com pessoas que eu gosto de estar junto, tão e somente com essas. Com as mais especiais eu tomo até chimarrão.

Gosto de chegar no domingo e ligar no som uma música qualquer, de preferência totalmente o extremo oposto do que eu gosto de ouvir...e fazer uns rituais de dança com música podre em boa compania. Acender uns incensos, empunhar a garrafa térmica e trocar idéias sobre futuro, diversão e apaixonites agudas.

O tempo passa, o dia escurece e a gente fica parado só vivendo... A gente já sabe que amanhã vai ser dia e nesse horário vai ser noite de novo... e não importa o que aconteça nesse meio tempo, a essa mesma hora vai ser noite igual, o amanhã vai sempre ser amanhã e o hoje já vai ter passado mas vai continuar existindo... Mas o bom é não pensar, tentar só não pensar, só ir vivendo e pronto...Depois se deitar e esperar chegar o dia, acordar e viver de novo tentando não pensar, como se a vida fosse eterna.

E nessa eternidade a gente vai andando, vai vivendo e não pensando. Pra não poder explorar muito esse pingo de certeza de que isso tudo um dia vai ser nada. No fundo no fundo a gente sabe disso e tem medo, esse medo a gente não quer ter, e por isso que o bom é não pensar, pra gente viver a nossa ilusão eterna.

Eu amo essa ilusão, as vezes eu não gosto muito dela mas ela faz brigadeiro quando eu estou mal e por isso a gente se da bem e eu sempre acabo achando que é bom amar ela.

Minhas mãos estão com cheiro de cebola e eu acho que nessa cebola foi botado bastante agrotóxico, estou tonta. É que a minha ilusão disse e eu acredito nela porque se eu não acreditar vai ser difícil conseguir não pensar e daí o medo me pega e aí eu já não sei...

O café já acabou e o que sobra está bem pouquinho no fundinho da caneca...Vou me deitar, no meu travesseiro que eu amo, nas minhas cobertas que eu amo e tentar não pensar. Só vou dormir e a ilusão se encarrega do resto, eu confio nela.

Eu não amo tudo mas eu gosto das pessoas, principalmente as que aceitam o brigadeiro que eu ganho da minha ilusão, sempre divido com quem quiser, fora o cheiro de cebola que fica nas mãos, é bom dormir depois de comer ele pra você não pensar muito. Aceita um brigadeiro?

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Segunda-feira do avesso mode on

Estava me lembrando ontem, de quando eu escrevi uma carta pro Silvio Santos (sim, é isso mesmo), lá pelos meus 6-7 anos... Escrevi e pedi pra minha mãe botar no correio... ela falou que sabia o endereço e eu deixei pra ela mandar. Tinha desenhos e tudo, e eu escrevi Abravanel e tudo pra ele ver q eu sabia o nome dele...(o negócio é que eu queria trabalhar com ele). Sei dizer que o Silvio Santos nunca me ligou e olha que eu tinha colocado uns 3 telefones lá...

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Um belo dia, uns 5 anos depois, eu encontro no meio da papelada a minha cartinha com a letrinha até caprichada que certamente eu me esforcei horrores pra conseguir fazer (como boa amante que sempre fui dos cadernos de caligrafia ¬¬ (bom, dizem que letra feia representa inteligência, então essa tem sido a minha desculpa ao longo desses anos) minha letra sempre foi um código por vezes um tanto indecifrável...por mim também, diga-se de passagem), junto com algumas tantas outras cartas pro Papai Noel. Enfim, a minha mãe não tinha mandado a carta pro Silvio Santos e eu fiquei mega frustrada com tudo.

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Moral da história: Às vezes as pessoas em quem vc mais confia e ama, certamente vão mentir pra vc e o que é pior...vão querer rir disso mais tarde, e qdo vc descobrir vc vai se frustrar diabos (e depois que vc se sentir a pessoa mais idiota do mundo ainda vai dar risada dessa droga toda, o que comprova o adjetivo anterior ), mas mesmo assim vc vai continuar amando-as igual e fazendo de conta que acredita que elas nunca mais vão mentir pra vc enquanto elas fazem de conta que acreditam no teu faz-de-conta.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Máscaras

Havia muita gente...O espaços que haviam para passar eram pequenos vãos entre os corpos naquela multidão.

Muitas máscaras...tantas quanto o número de pessoas do lugar. Ele pensava “vou mascarado, serei visto como quero, serei aceito, os outros não precisam, não usam, não vão notar”. E pensava sem pensar, queria sem saber, mas usava, ele sempre usava e não se dava conta mas aquilo tornava-se um vício inconsciente, estava preso...preso no seu “eu mascarado”. No seu íntimo a máscara já não era necessária, saía dele sem precisar desprender muita força, aí ele chorava...lembrava que era tudo uma grande mentira. No seu íntimo não conseguia esconder-se de si mesmo e chorava, chorava... quando as lágrimas cessavam, um fio de sangue lhe escorria pelo nariz e ele podia sentir aquele gosto de sangue quente.

Todos usavam e pensavam ser os únicos. Todos enganados, cada um em seu mundo de mentiras, de verdades encobertas. Era mais confortável ter uma pincelada aguada de cor em seus sentidos acinzentados. Ser aceito!

Ele tinha vontade de chegar mais perto, de olhar bem fundo encarando o “eu” deles, queria saber se mais alguém naquele mundo se escondia como ele, se usava uma fantasia. Sentiria-se melhor se soubesse que alguém também tinha um segredo desses. Mas hesitava, não se atrevia... e se alguém descobrisse a sua farsa? Se quando ele estivesse bem perto alguém visse aquela máscara? Estaria abolido, seria o exílio eterno. A coisa que ele mais temia. Embora evitasse pensar a respeito, seus pensamentos e temores lhe perseguiam sem dar trégua, vivia em uma eterna tortura psicológica, então se resignava. Nunca descobriria se existiam outros farsantes como ele.

Todos com máscaras, todos pensando igual, na agonia por uma resposta, querendo saber sobre o outro, pra poder em silêncio livrar-se de uma parcela daquela carga pesada... a mentira. E choravam escondidos, encolhidos, no canto gelado, escuro fosco da mais pura hipocrisia. Medo! Estavam fadados à duvida e resignação eterna. O medo! Que medo... daquela pergunta, quanta tortura em uma única pergunta, um sopro de solidão, uma janela, um descuido, a sensibilidade, uma resposta, o exílio!

Posso ver a cor dos teus olhos?